Texto e Digitação: Thaís Souza Entrevistado: Vitor Menezes
Esta semana, estamos tendo a honra de contar com a participação do jornalista, Vitor Menezes, que também é um dos organizadores do Festival Doces Palavras.
O Festival Doces Palavras teve a sua quinta
edição no mês passado, na cidade de Campos.
E, o Vitor vai nos contar como nasceu esse
festival na nossa cidade, como que funciona e quais são os projetos para as
próximas edições do famoso FDP.
Mas antes, gostaria de agradecer imensamente ao
Vitor, por ter aceitado o nosso convite para participar do Blog de Matérias e
Anúncios com Thaís Souza; e por acreditar no projeto deste Blog que, é trazer
informação de qualidade para todos os seguidores. Esperamos que fique bem à
vontade com nossas perguntas e que esta nossa entrevista seja bastante
produtiva.
Então, vamos para nossa entrevista...
Vitor, a
primeira edição do FDP foi no ano de 2015, certo? Conte-nos como que veio a
ideia de criar esse festival e qual a real necessidade:
Resposta: Primeiro, agradeço a oportunidade e as
palavras carinhosas da apresentação. Faço apenas um reparo: não sou um dos
organizadores, como pessoa física, como cidadão, do FDP!. Apenas, pelas
circunstâncias de ter sido presidente e ainda estar na diretoria da AIC,
atualmente presidida por Wellington Cordeiro, contribuo na curadoria. Quanto ao
início, a primeira vez que falei publicamente sobre o assunto foi em 2005, em
um artigo publicado no Monitor Campista, com o título "Vamos misturar
doces com palavras?", que dava um esboço da ideia, inclusive do nome e da
sigla. Naquela época vínhamos de bienais bem grandes e com muitos convidados de
fora, inclusive internacionais em algumas edições, o que é ótimo e espero que
volte, mas me incomodava a quase ausência de autores e autoras campistas e de
editoras médias e pequenas, como as universitárias. A Bienal era muito
comercial e mainstream. Sentia falta de algo mais crítico, mais alternativo.
Uma referência, no conteúdo, foi a Primavera dos Livros, e em formato, foi o
Festival de Paraty (porque também achava que o FDP! não podia repetir aquele modelo
de tenda fechada, feito um galpão de estandes, e ser algo que fosse mais
contemplativo, em um local aberto e bonito). Depois, já na AIC, demos
consistência institucional à ideia, aprovando em diretoria como proposta da
entidade, que foi levada à Academia Campista de Letras, na época presidida por
Helinho Coelho, e depois à Prefeitura de Campos, por meio do Secretário de
Turismo e depois presidente da Codemca, Wainer Teixeira. Esse foi o trio que
deu origem ao FDP!: AIC e ACL como entidades proponentes e curadoras, e
Prefeitura de Campos como realizadora. Desde o início tínhamos acordo de que o
festival não deveria ser realizado por entidades privadas, mas ser público,
como a Bienal. E não ser dessa ou daquela pessoa, ser da cidade e para sempre,
por meio da realização pelo poder público.
Na primeira
edição do FDP, vocês alcançaram todas as expectativas?
Resposta: Tínhamos muito a percepção de que a
primeira edição precisava ser paradigmática, uma referência para as demais. E
conseguimos, graças a uma grande sensibilidade cultural do Wainer, aliada a uma
grande capacidade de gestão e de articulação política interna no governo, ter a
viabilização de várias características que prezávamos muito. Uma delas a
informalidade, a irreverência do evento. Para isso, por exemplo, nos
preocupamos até com detalhes como o locutor oficial do evento não ser o mesmo
que o da prefeitura. A ideia é que a prefeitura realizasse mas não fosse uma
cópia da Bienal e dos demais eventos oficiais. Outra característica, que
infelizmente não foi preservada nos anos seguintes, mas que espero que retorne,
é a de remunerar os debatedores e mediadores das mesas. Acho isso muito
importante. Não pelo valor em si, mas pelo respeito. Isso foi feito na primeira
edição. Porque entendemos que se autores e demais debatedores de fora podem e
devem ser remunerados quando vêm às bienais, os locais também devem ser. Outra
característica, essa preservada, é de independência da curadoria, que permite
que a cena cultural da cidade, especialmente na área da literatura e da
produção doceira tradicional, seja exposta de modo mais tranquilo e plural, sem
estarmos sujeitos a eventuais vetos a nomes ou grupos porventura não quistos
por esse ou aquele governo. Essa foi uma grande conquista e acho uma das razões
para o sucesso do FDP!
Eu, Thaís
Souza, participei de todas as edições, mas me lembro que em uma edição não
tivemos apoio do poder público, se eu não me engano foi a terceira edição. O
festival aconteceu com o apoio das instituições culturais. E, qual foi o
sentimento de vocês diante dessa situação?
Resposta: Sim, foi a terceira, a edição de 2019.
A prefeitura vinha cumprindo o seu papel de realizadora, fazendo as reuniões
preparatórias, tudo como nas edições anteriores, mas às vésperas da data
prevista disse que não iria realizar por falta de recursos. As entidades
culturais da cidade, e inclusive alguns equipamentos públicos, deram então uma
resposta linda: fizeram o FDP! em seus espaços, de modo descentralizado, e em
volume muito maior de atividades. Foi gigante em todos os sentidos. Começou
ironicamente num Dia de Finados e durou o mês de novembro inteiro. A força
social demonstrada ali foi essencial para que o evento não morresse.
Cada edição
do FDP tem sido um verdadeiro sucesso. Mas tem algum novo projeto para próximas
edições que, você pode nos contar?
Resposta: Não tem. O FDP! é uma construção
coletiva, que busca envolver o máximo de pessoas e instituições culturais da
cidade. Pode ser que haja, e tomara que haja, dezenas de ideias boas sendo
pensadas por aí, tanto da realizadora quanto das curadoras, assim como de todo
mundo que se envolve, mas o resultado desse caldeirão só saberemos após o tanto
de troca e de diálogo necessário a cada edição.
O FDP
acontece de dois a dois anos, intercalando com a Bienal, certo? Existe alguma
possibilidade de encurtar esse tempo e termos mais FDP?
Resposta: Creio que não. Nunca foi pensado, até
em razão dessa proposta de intercalar com a Bienal. Os dois eventos são ótimos
e essenciais para a cidade, não haveria porque um disputar com o outro, num
mesmo ano, todos os recursos e energias para a realização. Poderia até haver um
desgaste do evento.
Conte para
os nossos seguidores que não são da cidade de Campos, o porquê o FDP acontece
na Praça do Liceu:
Resposta: Curioso que essa nem era a proposta
original. No primeiro esboço da ideia, ainda no artigo de 2005, eu falava na
Usina do Queimado, justamente por conta do cenário para os doces, a tradição do
açúcar e tal. Quando fomos amadurecendo institucionalmente a ideia, ganhou
corpo a proposta de ser no Jardim São Benedito, para envolver a Academia
Campista de Letras. Até uma boa fase da organização da primeira edição tudo
estava sendo pensado para o Jardim São Benedito, com mapa do evento e tudo. Mas
aí descobrimos uma lei municipal que impede o consumo de bebidas alcoólicas no
Jardim São Benedito, o que contrariava a ideia de o evento ter um boteco
oficial, homenageando um bar histórico da cidade (nesta primeira edição foi o
Bar Doce Bar). Daí então surgiu a ideia de fazer na praça do Liceu, que na
época não era tão utilizada para eventos como se tornou, o que se mostrou um
acerto incrível, por também envolver a Uenf (por meio da Casa Villa Maria), a
Câmara de Vereadores e a OAB. O local é lindo e tem tudo a ver com o espírito
lúdico do FDP!.
Para quem
nunca participou do FDP e deseja participar das próximas edições. Como se
inscrever?
Resposta: A cada edição há um formato, mas
sempre passando por oportunidades públicas de diálogo, como nas reuniões
abertas, e por meio de chamamentos e editais. Acho que estes mecanismos ainda
poderão se mais aprimorados. O princípio é agregar cada vez mais participação.
Thais Souza:
Bom Vitor, estamos chegando ao final da nossa
entrevista, foi muito bom, contar com a sua participação aqui no nosso Blog,
que Deus te abençoe grandemente. Deixe aqui, suas palavras finais sobre a sua
participação no nosso Blog.
Vitor
Menezes: Eu que agradeço pela
oportunidade de falar sobre o FDP! em um espaço devotado à literatura. Foi uma
honra. Sou seu fã. Grande abraço para você e para quem leu até aqui.
Nenhum comentário:
Postar um comentário