segunda-feira, 23 de outubro de 2023

Matéria - Entrevista com o Jornalista, Vitor Menezes

Texto e Digitação: Thaís Souza           Entrevistado: Vitor Menezes

Esta semana, estamos tendo a honra de contar com a participação do jornalista, Vitor Menezes, que também é um dos organizadores do Festival Doces Palavras.

O Festival Doces Palavras teve a sua quinta edição no mês passado, na cidade de Campos.

E, o Vitor vai nos contar como nasceu esse festival na nossa cidade, como que funciona e quais são os projetos para as próximas edições do famoso FDP.

Mas antes, gostaria de agradecer imensamente ao Vitor, por ter aceitado o nosso convite para participar do Blog de Matérias e Anúncios com Thaís Souza; e por acreditar no projeto deste Blog que, é trazer informação de qualidade para todos os seguidores. Esperamos que fique bem à vontade com nossas perguntas e que esta nossa entrevista seja bastante produtiva.

Então, vamos para nossa entrevista...

 

Vitor, a primeira edição do FDP foi no ano de 2015, certo? Conte-nos como que veio a ideia de criar esse festival e qual a real necessidade:

Resposta: Primeiro, agradeço a oportunidade e as palavras carinhosas da apresentação. Faço apenas um reparo: não sou um dos organizadores, como pessoa física, como cidadão, do FDP!. Apenas, pelas circunstâncias de ter sido presidente e ainda estar na diretoria da AIC, atualmente presidida por Wellington Cordeiro, contribuo na curadoria. Quanto ao início, a primeira vez que falei publicamente sobre o assunto foi em 2005, em um artigo publicado no Monitor Campista, com o título "Vamos misturar doces com palavras?", que dava um esboço da ideia, inclusive do nome e da sigla. Naquela época vínhamos de bienais bem grandes e com muitos convidados de fora, inclusive internacionais em algumas edições, o que é ótimo e espero que volte, mas me incomodava a quase ausência de autores e autoras campistas e de editoras médias e pequenas, como as universitárias. A Bienal era muito comercial e mainstream. Sentia falta de algo mais crítico, mais alternativo. Uma referência, no conteúdo, foi a Primavera dos Livros, e em formato, foi o Festival de Paraty (porque também achava que o FDP! não podia repetir aquele modelo de tenda fechada, feito um galpão de estandes, e ser algo que fosse mais contemplativo, em um local aberto e bonito). Depois, já na AIC, demos consistência institucional à ideia, aprovando em diretoria como proposta da entidade, que foi levada à Academia Campista de Letras, na época presidida por Helinho Coelho, e depois à Prefeitura de Campos, por meio do Secretário de Turismo e depois presidente da Codemca, Wainer Teixeira. Esse foi o trio que deu origem ao FDP!: AIC e ACL como entidades proponentes e curadoras, e Prefeitura de Campos como realizadora. Desde o início tínhamos acordo de que o festival não deveria ser realizado por entidades privadas, mas ser público, como a Bienal. E não ser dessa ou daquela pessoa, ser da cidade e para sempre, por meio da realização pelo poder público.

 

Na primeira edição do FDP, vocês alcançaram todas as expectativas?

Resposta: Tínhamos muito a percepção de que a primeira edição precisava ser paradigmática, uma referência para as demais. E conseguimos, graças a uma grande sensibilidade cultural do Wainer, aliada a uma grande capacidade de gestão e de articulação política interna no governo, ter a viabilização de várias características que prezávamos muito. Uma delas a informalidade, a irreverência do evento. Para isso, por exemplo, nos preocupamos até com detalhes como o locutor oficial do evento não ser o mesmo que o da prefeitura. A ideia é que a prefeitura realizasse mas não fosse uma cópia da Bienal e dos demais eventos oficiais. Outra característica, que infelizmente não foi preservada nos anos seguintes, mas que espero que retorne, é a de remunerar os debatedores e mediadores das mesas. Acho isso muito importante. Não pelo valor em si, mas pelo respeito. Isso foi feito na primeira edição. Porque entendemos que se autores e demais debatedores de fora podem e devem ser remunerados quando vêm às bienais, os locais também devem ser. Outra característica, essa preservada, é de independência da curadoria, que permite que a cena cultural da cidade, especialmente na área da literatura e da produção doceira tradicional, seja exposta de modo mais tranquilo e plural, sem estarmos sujeitos a eventuais vetos a nomes ou grupos porventura não quistos por esse ou aquele governo. Essa foi uma grande conquista e acho uma das razões para o sucesso do FDP!

 

Eu, Thaís Souza, participei de todas as edições, mas me lembro que em uma edição não tivemos apoio do poder público, se eu não me engano foi a terceira edição. O festival aconteceu com o apoio das instituições culturais. E, qual foi o sentimento de vocês diante dessa situação?

Resposta: Sim, foi a terceira, a edição de 2019. A prefeitura vinha cumprindo o seu papel de realizadora, fazendo as reuniões preparatórias, tudo como nas edições anteriores, mas às vésperas da data prevista disse que não iria realizar por falta de recursos. As entidades culturais da cidade, e inclusive alguns equipamentos públicos, deram então uma resposta linda: fizeram o FDP! em seus espaços, de modo descentralizado, e em volume muito maior de atividades. Foi gigante em todos os sentidos. Começou ironicamente num Dia de Finados e durou o mês de novembro inteiro. A força social demonstrada ali foi essencial para que o evento não morresse.

 

Cada edição do FDP tem sido um verdadeiro sucesso. Mas tem algum novo projeto para próximas edições que, você pode nos contar?

Resposta: Não tem. O FDP! é uma construção coletiva, que busca envolver o máximo de pessoas e instituições culturais da cidade. Pode ser que haja, e tomara que haja, dezenas de ideias boas sendo pensadas por aí, tanto da realizadora quanto das curadoras, assim como de todo mundo que se envolve, mas o resultado desse caldeirão só saberemos após o tanto de troca e de diálogo necessário a cada edição.

 

O FDP acontece de dois a dois anos, intercalando com a Bienal, certo? Existe alguma possibilidade de encurtar esse tempo e termos mais FDP?

Resposta: Creio que não. Nunca foi pensado, até em razão dessa proposta de intercalar com a Bienal. Os dois eventos são ótimos e essenciais para a cidade, não haveria porque um disputar com o outro, num mesmo ano, todos os recursos e energias para a realização. Poderia até haver um desgaste do evento.

 

Conte para os nossos seguidores que não são da cidade de Campos, o porquê o FDP acontece na Praça do Liceu:

Resposta: Curioso que essa nem era a proposta original. No primeiro esboço da ideia, ainda no artigo de 2005, eu falava na Usina do Queimado, justamente por conta do cenário para os doces, a tradição do açúcar e tal. Quando fomos amadurecendo institucionalmente a ideia, ganhou corpo a proposta de ser no Jardim São Benedito, para envolver a Academia Campista de Letras. Até uma boa fase da organização da primeira edição tudo estava sendo pensado para o Jardim São Benedito, com mapa do evento e tudo. Mas aí descobrimos uma lei municipal que impede o consumo de bebidas alcoólicas no Jardim São Benedito, o que contrariava a ideia de o evento ter um boteco oficial, homenageando um bar histórico da cidade (nesta primeira edição foi o Bar Doce Bar). Daí então surgiu a ideia de fazer na praça do Liceu, que na época não era tão utilizada para eventos como se tornou, o que se mostrou um acerto incrível, por também envolver a Uenf (por meio da Casa Villa Maria), a Câmara de Vereadores e a OAB. O local é lindo e tem tudo a ver com o espírito lúdico do FDP!.

 

Para quem nunca participou do FDP e deseja participar das próximas edições. Como se inscrever?

Resposta: A cada edição há um formato, mas sempre passando por oportunidades públicas de diálogo, como nas reuniões abertas, e por meio de chamamentos e editais. Acho que estes mecanismos ainda poderão se mais aprimorados. O princípio é agregar cada vez mais participação.

 

Thais Souza: Bom Vitor, estamos chegando ao final da nossa entrevista, foi muito bom, contar com a sua participação aqui no nosso Blog, que Deus te abençoe grandemente. Deixe aqui, suas palavras finais sobre a sua participação no nosso Blog.

Vitor Menezes: Eu que agradeço pela oportunidade de falar sobre o FDP! em um espaço devotado à literatura. Foi uma honra. Sou seu fã. Grande abraço para você e para quem leu até aqui.

 

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